Tipologias textuais
TIPOLOGIAS TEXTUAISREDAÇÃO E LEITURA
George Lucas Casagrande
No ensino de línguas e comunicação, há uma tripartição clássica que visa classificar os textos produzidos, dividindo-os em três tipos: descrição, narração e argumentação. Embora seja comum que um desses tipos predomine em determinados textos, dificilmente encontramos produções com apenas um deles de forma pura. Para ilustrar melhor a função de cada tipo, podemos dizer que a descrição é uma sequência de aspectos, a narração, uma sequência de fatos, e a dissertação, uma sequência de opiniões.
O texto narrativo
A narração, como vimos, pode ser definida como uma “sequência de fatos”. O texto narrativo, portanto, tem a função de contar um acontecimento, seja ele real ou fictício. Esse tipo textual está presente em diversos gêneros, como notícias de jornal, crônicas e romances, sendo mais recorrente na literatura.
A estrutura narrativa gira em torno de três elementos centrais: personagens, ações e ideias. Desde os primórdios da civilização, as narrativas acompanham a humanidade, seja no relato de feitos reais — como ocorre nas ciências e na história —, seja na invenção de mundos e personagens, como nas narrativas ficcionais. No primeiro caso, temos a objetividade do relato. No segundo, a subjetividade do olhar artístico do escritor, que representa a realidade a partir da ficção.
Gêneros textuais narrativos: contos, novelas, romances, crônicas, fábulas, parábolas, lendas, mitos, notícias, reportagens.
Exemplo:
O Macaco e a Cotia
(Conto popular indígena)
O macaco foi dançar na casa da cotia; a cotia, de sabida, mandou o macaco tocar, dando-lhe uma rabeca. A cotia começou a dançar e, no virar à roda, deu uma embigada na parede e partiu o rabo. Todos os que tinham rabo ficaram vendo isto, com medo de dançar. Então o preá disse: “Ora, vocês estão com medo de dançar! Mandem tocar, e vão ver obra!”
O macaco ficou logo desconfiado, e trepou-se num banco e pôs-se a tocar para o preá dançar. O preá deu umas voltas e foi dar sua embigada no mestre macaco, que não teve outro jeito senão entrar também na dança das cotias e dos outros animais, e todos lhe pisaram no rabo.
Então ele disse: “Não danço mais, porque compadre preá e compadre sapo não devem dançar pisando no rabo dos outros, porque eles não têm rabo pra nele se pisar.” Pulou para cima da janela e de lá tocava sem ser incomodado.
O texto descritivo
O texto descritivo, amplamente utilizado em produções literárias, técnicas ou científicas, tem como função criar uma imagem mental do objeto descrito. Ele busca representar algo de forma detalhada, sensorial e estática, isto é, sem movimento.
A descrição pode retratar objetos concretos, como uma pessoa, uma casa ou um animal, mas também elementos abstratos, como emoções, sentimentos ou estados de espírito. Em geral, o observador apresenta primeiro uma visão geral do objeto e depois vai detalhando suas partes, muitas vezes obedecendo a uma ordem espacial (de cima para baixo, da esquerda para a direita, do todo para as partes, etc.).
Gêneros textuais descritivos: romances, contos, crônicas, anúncios de classificados, cardápios, laudos médicos, receitas, catálogos.
Exemplos:
Descrição de uma rua
(Lima Barreto)
"A rua em que estava situada sua casa desenvolvia-se no plano e, quando chovia, encharcava e ficava que nem um pântano; entretanto, era povoada e se fazia caminho obrigado das margens da Central para a longínqua e habitada freguesia de Inhaúma. Carroções, carros, autocaminhões que, quase diariamente, andam aquelas bandas a suprir os retalhistas e gêneros que os atacadistas lhes fornecem, percorriam-na do começo ao fim."
Descrição de uma casa
(Monteiro Lobato)
"Era o casarão clássico das antigas fazendas negreiras. Assobradado, erguia-se em alicerces ou muramento, de pedra até meia altura e, dali em diante, de pau-a-pique. Esteios de cabriúva entremostravam-se, picados a enxó, nos trechos donde se esboroara o reboco. Janelas e portas em arco, de bandeiras em pandarecos. Pelos interstícios da pedra amoitavam-se samambaias e, nas faces de noruega, avenquinhas raquíticas. Num cunhal, crescia anosa figueira, enlaçando as pedras na terrível cordoalha tentacular. À porta da entrada ia ter uma escadaria dupla, com alpendre em cima e parapeito esborcinado."
Descrição de um animal
(José de Alencar)
"Era um cavalo grande, branco, com uma crina brilhante de vento e luz, caída sobre o pescoço firme. As patas pisavam duras e elegantes os cargos negros. O peito de músculos avançava com a raça do cavalo. (...) Mexendo a cabeça bruscamente, num belo movimento, ergueu-se (de que país seria?) e relinchou com toda a sua força."