Romantismo
LITERATURAMOVIMENTOS LITERÁRIOS
George Lucas Casagrande
7/15/20252 min read
Na segunda metade do século XVIII, operou-se uma profunda transformação na vida cultural do Ocidente. O surgimento da burguesia moderna consolidou o individualismo e a valorização da originalidade, o que tornou inviável a antiga concepção de estilo como expressão de uma comunidade espiritual. À medida que essa classe ascendente se tornava economicamente forte e socialmente influente, afirmava também um padrão artístico próprio. Em oposição aos modelos aristocráticos, a burguesia passou a defender uma estética baseada na emoção e no sentimento, contrapondo-se à frieza racional e ao rigor das regras formais que caracterizavam a arte aristocrática. Assim, à opressão normativa dos estilos clássicos, os burgueses opunham a liberdade criadora do gênio. Nesse sentido, o surgimento da burguesia e o desenvolvimento do espírito romântico constituem fenômenos inseparáveis.
A compreensão plena do impacto do Romantismo exige considerar que, nesse período, forma-se pela primeira vez um público leitor numeroso. A aristocracia cortês não desempenhava esse papel: seus poetas eram figuras acessórias, mantidas mais pelo prestígio social que proporcionavam do que por sua produção artística. A literatura destinava-se a poucos nobres ociosos, e a educação feminina como prática leitora só se estruturaria no século XVIII. Por isso, o Romantismo encontra um público novo e amplo, proveniente da classe burguesa, que se reconhece em uma arte igualmente nova, marcada pela sensibilidade, pela subjetividade e pela exaltação emocional, características que se opõem à contenção aristocrática. Nesse contexto, a intimidade, o sentimentalismo e a expressão individual tornam-se critérios estéticos fundamentais, e o apelo emocional passa a garantir a receptividade do artista entre seus leitores.
Enquanto os neoclássicos buscavam inspiração na Antiguidade como fonte de normas e modelos, os românticos, ao olharem para o passado, não o faziam por obediência estilística, mas por fascínio pelo remoto e por desejo de escapar ao presente. O passado atraía pelo exótico e distante, e essa mesma ânsia de evasão explica a presença, no Romantismo, do sonho, da loucura, da utopia e das recordações da infância, elementos que reforçam a ruptura com a racionalidade iluminista.
No Brasil, o Romantismo encontrou no índio um símbolo estético e político capaz de expressar o ideal de autonomia nacional. Graças ao seu caráter emblemático, o indígena romântico não possuía correspondência direta com a realidade histórica, mas assumia valor simbólico e poético, uma mitologia brasileira que substituía a greco-latina. Tratava-se de criar uma expressão literária própria e afirmar a identidade cultural do país recém-independente.
No cenário europeu, destacam-se como grandes nomes do Romantismo o romance de Stendhal (1783–1842) e Balzac (1799–1850), e a poesia de Victor Hugo (1802–1885) e Hölderlin. No Brasil, sobressaem a poesia de Gonçalves Dias (1823–1864) e Castro Alves (1847–1871), além da prosa narrativa de José de Alencar, que consolidou os alicerces da ficção romântica nacional.
