Renascimento
LITERATURAMOVIMENTOS LITERÁRIOS
George Lucas Casagrande
7/15/20252 min read
À medida que a sociedade se afasta do rígido domínio exercido pela Igreja durante a Idade Média, a arte começa a voltar-se mais diretamente para a realidade humana, colocando o indivíduo no centro do universo simbólico. Essa nova visão de mundo recebe o nome de humanismo: um movimento que valoriza o ser humano, sua capacidade intelectual, sua autonomia e sua habilidade de compreender e transformar o mundo por meio do conhecimento. O Renascimento reage ao ascetismo medieval, isto é, ao desprezo pelo corpo e pelos interesses terrenos, e passa a exaltar a dignidade da experiência humana, defendendo a liberdade interior e a afirmação da personalidade. Isso não significa, contudo, que o período tenha abandonado a religiosidade; na verdade, ele foi menos submisso à autoridade eclesiástica e menos centrado na renúncia espiritual, mas não propriamente descrente. Noções como salvação, redenção ou pecado original permanecem, embora deixem de ocupar o lugar central que antes detinham.
A visão científica e naturalista do mundo, tal como entendemos hoje, nasce nesse contexto renascentista. O estudo sistemático da natureza, a observação rigorosa dos fenômenos e o registro consciente das experiências constituíram inovações fundamentais do período. O próprio artista passou a olhar o mundo à sua volta com novo interesse, investigando suas formas e buscando compreendê-las. A diferença não é apenas que o artista observa a natureza, mas que a obra de arte se torna, ela mesma, um exercício de investigação e representação do real. Mesmo quando o tema é religioso, a arte renascentista privilegia o mundo visível e imediato, aproximando o sagrado da experiência humana concreta.
É também no Renascimento que surge, pela primeira vez, a noção moderna de “gênio”, acompanhada da ideia de autoria e de propriedade intelectual. Na Idade Média, essa concepção não existia: como a arte era vista como expressão da ordem divina, o artista era considerado apenas um instrumento dessa manifestação, e não um criador no sentido pleno. Por isso, a ideia de originalidade pessoal era pouco relevante. Somente com a fragmentação da cultura cristã e com o declínio da autoridade absoluta da Igreja é que se torna possível afirmar a autonomia do artista sobre sua obra. A partir de então, a expressão individual conquista espaço próprio, e, mesmo com tentativas posteriores de reaproximar arte e religião, a unidade cultural medieval não voltará a se repetir, garantindo à produção artística a liberdade e a independência características da modernidade.
