O romance policial

Há duas vertentes principais para explicar a origem do romance policial. A primeira está ligada ao desenvolvimento da sociedade moderna: leis mais claras, atuação da polícia e avanço da tecnologia de investigação teriam fortalecido a crença no poder de resolução dos crimes. A segunda vertente é de natureza metafísica: investiga-se porque compreender a realidade nos alivia, enquanto o mistério nos angustia, o entendimento nos dá prazer intelectual.

O romance policial clássico é estruturado a partir de três figuras: a vítima, o criminoso e o detetive. No entanto, essa função investigativa pode ser exercida por personagens diversas, como Miss Marple, a simpática velhinha criada por Agatha Christie que desvenda crimes com astúcia e observação. O gênero costuma seguir uma estrutura estereotipada: um mistério aparentemente inexplicável, pistas que apontam para culpados falsos, observação minuciosa dos fatos, raciocínio lógico, e uma solução surpreendente, mas coerente com os dados da narrativa. A romancista P. D. James propõe a seguinte distinção do romance policial de outros romances:

“A história de detetive se distingue tanto do romance padrão como dos romances de crime em geral por sua estrutura altamente organizada e suas convenções estabelecidas. O que esperamos é um crime central misterioso, geralmente um assassinato; um círculo fechado de suspeitos, cada um com motivo, meios e oportunidade de cometer o crime; um detetive, amador ou Revista Língua & Literatura, v. 18, n. 32, p. 146 - 167, dez. 2016. Recebido em: 28 out 2016 Aprovado em: 21 dez 2016 Página149 profissional, que entra em cena como uma divindade vingadora para resolver tudo; e, no fim do livro, uma solução a que o leitor deveria ser capaz de chegar por dedução lógica das pistas inseridas no romance com astúcia enganosa, mas indispensável honestidade.”

Embora se mencione Édipo Rei como exemplo ancestral do gênero, é com Os Crimes da Rua Morgue (1841), de Edgar Allan Poe, que se estabelecem suas bases modernas. Poe influenciou uma linhagem extensa de autores: Arthur Conan Doyle, Agatha Christie, Raymond Chandler, Patricia Highsmith e, mais recentemente, Dennis Lehane, autor de Entre Meninos e Lobos (2001). No Brasil, destacam-se Rubem Fonseca, Patrícia Melo e Luiz Alfredo Garcia-Roza.

Já no cinema, o romance policial é explorado até as últimas consequências, desde obras precárias a grandes clássicos das telas. O estilo noir soube explorar os elementos do romance policial com extrema competência. A conhecida série de filmes Dirty Harry é também outro grande exemplo do gênero policial.