O romance epistolar

LITERATURAGÊNEROS LITERÁRIOS

George Lucas Casagrande

7/15/20252 min read

Romance escrito por cartas seriadas, em que personagens da narrativa trocam mensagens, embora também sejam consideradas as histórias escritas na forma de diários, artigos jornalísticos e, trazendo o gênero para a modernidade, mensagens eletrônicas, como e-mails. O termo, pouco usual, vem do latim epistolaris, que tem o sentido de “carta” ou “epístola”, e seu uso é antigo, já aparecendo na literatura latina com as epístolas de Horácio, Varrão, Plínio, Ovídio, Sêneca e, sobretudo, de Cícero. Está presente também na Bíblia, com as Epístolas de São Paulo destinadas às comunidades cristãs. O romance epistolar tem o mesmo objetivo dos demais romances: envolver o leitor por meio da ficção, mas com a estratégia de conferir mais realismo à narrativa. A alternância de remetentes, a mudança de tom nas cartas e a presença de visões distintas sobre os fatos são características frequentes.

Sartre, ao avaliar a técnica do romance por cartas, afirma:

“A carta é o relato subjetivo de um evento; remete àquele que a escreveu, que se torna ao mesmo tempo ator e subjetividade testemunha. Quanto ao evento em si, ainda que recente, já vem repensado e explicado: a carta sempre supõe uma defasagem entre o fato (que pertence a um passado próximo) e o seu relato, feito ulteriormente e num momento de lazer.”

Entre os romances epistolares mais famosos estão As ligações perigosas (1782), de Pierre Choderlos de Laclos, Drácula (1897), de Bram Stoker, e Werther (1774), de Goethe. No Brasil, destacam-se O primo Basílio (1878), de Eça de Queirós, Cartas Chilenas (escritas por volta de 1787), atribuídas a Tomás Antônio Gonzaga, e A mulher que escreveu a Bíblia (1999), de Moacyr Scliar.

No cinema, embora a forma epistolar pareça pouco explorada, ela também pode ser encontrada em algumas narrativas. No filme romântico A Casa do Lago (2006), dois personagens (interpretados por Keanu Reeves e Sandra Bullock) se comunicam por cartas deixadas em uma caixa de correio, protagonizando uma história que também lida com as barreiras do tempo. Já o filme Ela (2013) representa uma versão contemporânea do gênero: o solitário protagonista desenvolve uma relação afetiva com um sistema operacional inteligente por meio de mensagens e áudios, um romance construído por meio da linguagem escrita e da mediação tecnológica.