O romance de realismo mágico
LITERATURAGÊNEROS LITERÁRIOS
George Lucas Casagrande
7/15/20252 min read
No romance de realismo mágico, há a presença de enredos mirabolantes e elementos sobrenaturais. Trata-se de uma narrativa que trabalha intensamente com a alegoria, permitindo que aspectos absurdos da realidade, como ditaduras e a violência estatal, sejam criticados de forma velada. Por essa razão, esse tipo de romance ganhou grande projeção na América Latina nas décadas de 1960 e 1970, como fruto da convivência de duas visões distintas que marcaram a cultura hispano-americana e também o Brasil: a cultura da tecnologia e a cultura da superstição.
Mesmo vinculado à racionalidade e à ciência, o século XIX viu florescer esse tipo de narrativa. Prova disso é o romance O Diabo Amoroso (1772), de Jacques Cazotte, repleto de metamorfoses e enganos, em uma convivência aparentemente realista com o fantástico: o diabo aparece travestido como Biondetta, uma bela mulher por quem o protagonista se deixa seduzir. O pacto com o diabo mais famoso da literatura está na história de Fausto e em suas diversas versões, por vários autores: Marlowe, em 1588; Goethe, em 1773; Thomas Mann, em 1947; e Guimarães Rosa, em 1956.
Segundo Selma Rodrigues:
“O fantástico, como todo relato de ação, tende a um fim. O enunciado fantástico, especificamente, apresenta uma zona de interrupção, um escamoteio de dados que construiriam o sentido total da ação [...] apresentando, em mais alto grau que qualquer outro tipo de narrativa, certos vazios, certas indeterminações.”
Entre os escritores sul-americanos mais célebres do século XX, destaca-se Gabriel García Márquez, autor de Cem Anos de Solidão (1968), talvez o romance mais emblemático do período. Além dele, uma vasta lista de escritores de língua espanhola também se aventurou no fantástico: Jorge Luis Borges, Julio Cortázar, Carlos Fuentes, Miguel Ángel Asturias, Alejo Carpentier, Adolfo Bioy Casares, Juan Carlos Onetti, Juan Rulfo, Mario Vargas Llosa, Guillermo Cabrera Infante, Severo Sarduy, Manuel Puig e Isabel Allende. No Brasil, o próprio Machado de Assis explorou elementos do insólito e do mágico. Guimarães Rosa, já citado, e Murilo Rubião também figuram entre os principais nomes dessa vertente.
No cinema, devido às múltiplas possibilidades tecnológicas, o realismo mágico sempre esteve presente. Filmes recentes e famosos do gênero incluem Peixe Grande e Suas Histórias Maravilhosas (2003), de Tim Burton; As Aventuras de Pi (2012), de Ang Lee; e O Fabuloso Destino de Amélie Poulain (2001), de Jean-Pierre Jeunet.