O poder das palavras de um professor
"Hoje, compartilho as dores e delícias dessa profissão tão exigente e complexa que, em momentos que nem percebemos e imaginamos, pode marcar profundamente os alunos."
ARTIGOS
George Lucas Casagrande
E lá se vão vinte e sete anos desde a primeira vez que pisei em uma escola. Não fiz o pré, porque era uma criança tímida, e foi uma grande dificuldade socializar no início da escola. Fui direto para a primeira série, sem ter tido contato com nenhuma letra, apenas desenhos e rabiscos, afinal desenhar foi a primeira paixão da minha vida.
Foi então que conheci a professora Rose, da primeira série, que me alfabetizou. Ela dizia para minha mãe, muito angustiada pelo fato de estar, enfim, adentrando em um ambiente novo, que não precisava se preocupar com o jeito que eu segurava o lápis ou a caneta; o mais importante era que eu aprendesse a ler e a escrever. “Pode deixar ele comigo”, disse ela.
Anos depois, já no auge do meu ensino médio, estava no fundo da biblioteca quando ouvi uma professora de português comentar que um aluno de outra sala pegava a caneta de uma forma “horrorosa”, e que era “a coisa mais feia que ela já tinha visto”. Ela não percebeu que eu estava sentado em outra mesa.
Hoje, no ambiente escolar, o meu jeito de escrever continua chamando atenção. Mas, agora adulto e carregando a típica malícia do professor, nenhum comentário me incomoda, obviamente. Eu simplesmente não consigo, e já nem quero, segurar a caneta do jeito tradicional. Pra quem não sabe, eu, além de canhoto, seguro a caneta com a mão fechada, de um modo um tanto rude, que visualmente que visualmente indica pouca delicadeza estética.
Essas duas situações, juntamente com muitas outras vivenciadas no ambiente escolar, me marcaram profundamente. Levo dona Rose, uma senhora que talvez nem esteja mais viva, como meu primeiro e grande exemplo de professora e de ser humano. Um detalhe: ela me alfabetizou muito rápido, com aquela rigidez carinhosa tipica das professoras do primeiro ciclo. E se hoje estou aqui, mesmo depois de longos anos, devo muito a ela.
Quanto à outra professora, cujo nome não guardei, pois não tive aulas com ela, levo também o ensinamento de que o professor é, antes de tudo, um ser humano. Portanto, o professor também erra. Eu a perdoo, e por mais que ela não tenha me marcado positivamente, prefiro lembrar também que ela parecia uma professora boa e carismatica, querida pelos alunos de outras turmas. E eu, ao lembrar dessa época, também coloco como contrapartida o fato de não ter sido um aluno exemplar.
Hoje, compartilho as dores e delícias dessa profissão tão exigente e complexa que, em momentos que nem percebemos e imaginamos, pode marcar profundamente os alunos. Dito isso, desejo um feliz dia dos professores a todos que, entre erros e acertos, continuam acreditando no poder transformador do ensino. Sabemos que ser professor, em muitos aspectos, é sim ter a melhor profissão do mundo.
E já que tenho falado muito de cinema aqui no meu site, finalizo o texto com uma frase de Alvo Dumbledore, do filme Harry Potter:
“Palavras são, na minha humilde opinião, nossa inesgotável fonte de magia, capazes de causar grandes sofrimentos e também de remediá-los.”


