Neoclassicismo
LITERATURAMOVIMENTOS LITERÁRIOS
George Lucas Casagrande
7/15/20252 min read
A tentativa de retorno, no século XVIII, aos padrões greco-latinos recebe o nome de Neoclassicismo. Trata-se da época dos enciclopedistas, Diderot, Rousseau e Montesquieu, representantes de uma sociedade que valoriza a precisão, a ciência e a crença de que a divulgação do saber poderia aperfeiçoar a vida social. Essa vertente intelectual ficou conhecida como Iluminismo, enquanto o termo Neoclassicismo passou a designar a imitação dos grandes autores clássicos, como Virgílio, Teócrito e Horácio, em oposição à exuberância formal do Barroco. Paralelamente, desenvolveu-se outra tendência literária: o Arcadismo, que, longe de ser contrário ao Iluminismo ou ao Neoclassicismo, se soma a eles ao propor o retorno idealizado à vida pastoril como alternativa ao ritmo inquieto das cidades em expansão.
Apesar de suas diferenças, as correntes setecentistas compartilham a fé na razão, na ciência e na harmonia natural. Natureza, razão e verdade formam uma tríade que sustenta as manifestações artísticas do período. À literatura caberia expressar racionalmente a natureza, alcançando assim uma “verdade possível”, isto é, uma verossimilhança construída segundo parâmetros de equilíbrio e clareza. Amparada nas poéticas de Aristóteles e Horácio, a estética neoclássica defendia que o crível, o possível e o provável constituíam o terreno legítimo da arte. Daí a contenção da fantasia e a exigência de inteligibilidade, sempre guiadas pelo entendimento racional e pelas leis naturais, compreendidas como um cosmos: um conjunto harmônico cujos princípios deveriam ser reproduzidos pela arte. Nesse sentido, versos como os de Marília de Dirceu, de Tomás Antônio Gonzaga, que articulam “regular beleza” e “sábia Natureza”, exemplificam com precisão esse ideal estético.
À medida que o mundo urbano se desenvolvia, o campo passou a ser visto como um bem perdido, reforçando a busca arcádica pela simplicidade e pelos valores bucólicos. No entanto, a estética neoclássica não se limitava à imitação da natureza: defendia igualmente a imitação dos valores e técnicas dos antigos. A originalidade, tão celebrada pelo Romantismo, não era uma virtude apreciada pelos setecentistas; ao contrário, a fidelidade aos grandes modelos clássicos era motivo de orgulho, pois esses autores haviam sido legitimados pela admiração da posteridade.
O Neoclassicismo também reflete a ascensão da burguesia europeia no século XVIII, fortalecida pelas transformações econômicas, políticas e sociais. Classe já favorecida, a burguesia procurava preservar seus privilégios, opondo-se a reformas que pudessem ampliá-los às camadas populares. Com pensadores como Voltaire, denunciava a servidão e defendia soluções para os problemas sociais não por meio de revoluções, mas pelo governo de um soberano esclarecido. Ao mesmo tempo, começou a controlar os meios de produção cultural: escrevia os livros e os consumia; produzia obras de arte e as adquiria. Se no século anterior representava um grupo restrito, no Setecentos transforma-se na principal classe que sustenta e difunde a cultura.
