Mario Vargas Llosa desvenda Flaubert e Emma Bovary em "A orgia perpétua"

"Mas diferente de toda a pompa e verborragia de muitos especialistas e eruditos das letras nos dias de hoje, Llosa nos apresenta um texto para leitores comuns, fazendo de "A orgia perpetua" um verdadeiro diamante da crítica literária moderna. "

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Assim como Mário Vargas Llosa, tenho uma imensa paixão por "Madame Bovary". E a devoção do escritor peruano por Madame Bovary e por sua principal personagem Emma é tanta, que ele escreveu um dos livros mais interessantes para falar sobre a monumental obra de Flaubert: "A Orgia Perpetua - Flaubert e Madame Bovary".

Ele começa nos contando como foi sua súbita paixão por Bovary em um tom muito pessoal e autobiográfico, e logo depois mergulha em cartas pessoais de Flaubert durante a produção de sua obra. Obra que demorou longos 5 anos para ser publicada, em um processo extenuante que deixou Flaubert diversas vezes com crises de enxaqueca.

Essa fixação de Flaubert era por conta de seu excesso de perfeccionismo. Um processo que o fazia escolher palavra por palvra de cada parágrafo, sendo ele uma espécie de maestro manipulando os tempos verbais e a descrição de cada objeto em cena. Tudo feito com extrema atenção e planejamento. Além disso, Vargas mostra qual era o espírito daqueles tempos e o motivo de Emma ser uma personagem tão peculiar.

Mas diferente de toda a pompa e verborragia de muitos especialistas e eruditos das letras nos dias de hoje, Llosa nos apresenta um texto para leitores comuns, fazendo de "A orgia perpetua" um verdadeiro diamante da crítica literária moderna. Os familiarizados com as obras de Mário Vargas Llosa logo percebem como Flaubert o influenciou. Seu erotismo sem exagero, seu humor sutil e sua atenção a cada detalhe devem muito ao francês.

Se Flaubert vivesse nos dias de hoje, tenho certeza de que ficaria muito feliz pela homenagem que Mário Vargas Llosa lhe presta em "A Orgia Perpetua". Ele revelou segredos e mistérios que só os grandes gênios conseguem perceber nas obras canônicas do ocidente. Sem dúvida, é um livro que engrandece ambos, e os aficionados por textos e suas estruturas vão perceber que vale muito a pena a leitura de "A Orgia Perpetua".

"A orgia perpétua" - Mario Vargas Llosa