Impressionismo
LITERATURAMOVIMENTOS LITERÁRIOS
George Lucas Casagrande
7/15/20252 min read
Inicialmente aplicado à pintura de Monet (1840–1926) e à música de Debussy (1862–1918), o termo Impressionismo passou a designar também uma tendência literária do final do século XIX.
Paralelamente, o crescimento das cidades como grandes centros urbanos, que reuniam núcleos de cultura, ofereceu o ambiente ideal para o florescimento dessa estética. O Impressionismo é, portanto, uma arte essencialmente citadina: expressão de um ritmo acelerado, das tensões e das impressões súbitas da vida urbana. O artista impressionista observa o mundo com o olhar do homem da cidade, reagindo com a sensibilidade nervosa típica do início da era tecnológica. A passagem do campo para a cidade ampliou significativamente a percepção sensorial.
O Impressionismo substitui a ideia abstrata e o conhecimento teórico característicos do Naturalismo por uma experiência diretamente visual, valorizando a percepção ótica como forma autônoma de apreensão do real. Como estilo literário, porém, não é facilmente delimitável. A crise da concepção positivista do mundo, que se acentua por volta de 1870, contribui para a decadência da expressão artística que representava esse pensamento. Obras realistas e naturalistas são então consideradas indelicadas e indecorosas, ligadas a uma visão materialista que reduzia o homem ao animal e a sociedade à desordem moral. Surge, assim, o Impressionismo como nova tendência dominante.
Duas características o definem de modo particular: o desinteresse pelo natural e a arte voltada para si mesma. A natureza intacta, tão valorizada pelos árcades e pelos românticos (cada qual à sua maneira), perde seu encanto. O interesse estético desloca-se para o artificialismo urbano, com suas diversões, hábitos e cultura própria. A natureza, antes inspiradora, passa a ser vista como vulgar e informe, encerrando um longo ciclo pastoral. O simples, o instintivo e o natural deixam de ser critérios de valor; o que importa agora é o refinamento intelectual e o artifício cultural.
Em rebeldia contra a rotina disciplinada da burguesia, o impressionista entrega-se à intensidade do instante e ao risco permanente da mudança. Justamente por romper com a ideologia burguesa, o movimento passa a sofrer resistência dessa classe. Enquanto os escritores realistas realizam o inventário do mundo exterior, os impressionistas voltam-se às impressões subjetivas, captando nuances sensoriais e psicológicas das personagens. Em autores como Raul Pompéia, observa-se a busca por registrar não apenas a impressão causada por um objeto, mas a impressão daquele objeto num momento singular, sob um ângulo particular. Cada instante produz uma percepção inédita. Os fenômenos surgem sem correlações lógicas, fragmentados em múltiplas facetas, conforme o ponto de vista. O simultâneo, o instável e o subjetivo ganham destaque.
A narrativa impressionista, em alguns casos, evolui para um esoterismo que dificultou sua aceitação pelo grande público, devido à exploração aprofundada dos estados psicológicos e ao experimentalismo técnico. O leitor de Stendhal, Balzac, Flaubert ou Zola nem sempre alcançava as sutilezas de autores como Tchekhov, Henry James, Proust e Thomas Mann. Da sua “torre de marfim”, o impressionista frequentemente se compraz em contrariar o gosto popular, propondo desafios estéticos. No Brasil, além de Raul Pompéia, destaca-se também Adelino Magalhães (1887–1967) como representante dessa tendência.
