Formas principais do gênero dramático

As formas ou espécies do gênero dramático estão diretamente relacionadas aos diferentes contextos estético-históricos. Como o teatro é uma arte que depende fortemente de sua recepção imediata pelo público, seu sucesso ou fracasso influencia diretamente as escolhas formais dos dramaturgos. Assim, ao longo da história, os autores buscaram adaptar suas ideias a modelos que fossem compreensíveis e aceitos em seu tempo. Paralelamente, o desenvolvimento do teatro também é marcado por rupturas, inovações e pela criação de novas formas que surgem quando certas estruturas se desgastam ou se transformam em fórmulas repetitivas. A seguir, apresentamos algumas das principais espécies do teatro ocidental.

Formas clássicas

Da Antiguidade greco-romana herdamos estruturas dramatúrgicas que permanecem vivas até hoje, especialmente a tragédia e a comédia, embora atualizadas e reinterpretadas ao longo dos séculos. Já o drama satírico, que compunha o tripé original do teatro grego, não encontrou continuidade significativa na cultura ocidental moderna.

A tragédia

A palavra tragédia deriva dos termos gregos tragos (“bode”) e odé (“canto”), remetendo aos rituais dedicados a Dioniso, deus do vinho, da fertilidade e do próprio teatro. Nessas celebrações, sacrificava-se um bode como forma de obter proteção divina. Foi Aristóteles, na Poética, quem formulou as primeiras definições e princípios dessa forma teatral. Durante muitos séculos, a tragédia foi considerada o modelo mais elevado e perfeito de arte dramática, dada sua capacidade de explorar conflitos humanos profundos, dilemas éticos e questões universais.

A comédia

Etimologicamente, comédia significa “canto da aldeia” ou “canto dos aldeões”, a partir de kômos (“aldeia” ou “festa popular”) e odé (“canto”). Historicamente, a comédia também tem raízes nos rituais dionisíacos, associados à alegria, à dança e ao erotismo, aspectos ligados à liberação dos sentidos provocada pelo vinho.

As personagens cômicas geralmente pertencem às camadas populares, o desfecho costuma ser feliz e a função central da comédia é provocar o riso, expondo o ridículo dos comportamentos humanos. Embora tenha finalidade crítica, denunciar vícios, exageros e falhas morais, a comédia faz isso por meio da ironia, da sátira ou do humor, podendo variar entre o obsceno e o delicado.

Entre suas principais modalidades, destacam-se:

• Comédias altas e baixas da Antiguidade

• Comédia-balé do século XVII

• Comédia de caráter, que apresenta personagens construídas com riqueza psicológica

• Comédia de costumes, centrada nos comportamentos sociais e com longa tradição

• Comédia de ideias, típica do final do século XIX e do século XX, focada em debates intelectuais

• Comédia de intriga, marcada por reviravoltas e ação dinâmica

• Comédia de situação, baseada em equívocos, enganos e trocas de identidade

• Comédia heroica, que mescla elementos trágicos e cômicos, com destaque para conflitos burgueses

• Comédia lacrimosa, especialmente associada ao Romantismo

• Comédia pastoral, de atmosfera bucólica, comum nos séculos XVI e XVII

• Comédia satírica, voltada à crítica social ou ao ridículo humano (cf. PAVIS, 1999)

Herdada da Antiguidade, a comédia constitui uma das formas mais ricas e diversas do teatro ocidental, mantendo grande vitalidade ao longo dos séculos e continuando a atrair públicos amplos e variados.