Forma renascentista: a tragicomédia
LITERATURAGÊNEROS LITERÁRIOS
George Lucas Casagrande
A tragicomédia surgiu no século XVI como uma forma dramática híbrida, combinando características da tragédia e da comédia. Embora traga conflitos intensos e situações de risco, não apresenta acontecimentos verdadeiramente funestos, e o desfecho costuma ser feliz, ainda que não necessariamente cômico. A narrativa pode mesclar elementos reais e imaginários, frequentemente incorporando aspectos maravilhosos ou fantásticos. Além disso, é comum a presença de reconhecimentos, peripécias e aventuras de caráter galante. Segundo Pavis (1999, p. 420), muitos autores da época demonstravam interesse pelo efeito espetacular, pelo surpreendente, pelo heroico, pelo patético e até mesmo por traços do barroco.
Entre os dramaturgos que contribuíram para a consolidação dessa forma está William Shakespeare, cuja obra transita com naturalidade entre fronteiras genéricas. Peças como O Conto de Inverno e A Tempestade são frequentemente classificadas como tragicomédias por unirem tensões dramáticas profundas a resoluções harmoniosas, reconciliadoras e até mágicas. Shakespeare recorre ao maravilhoso, ao sobrenatural e ao humor delicado para criar atmosferas que oscilam entre a gravidade e o encantamento, ampliando as possibilidades do gênero. Sua capacidade de equilibrar pathos e leveza influenciou intensamente o teatro europeu posterior, ajudando a estabelecer a tragicomédia como uma das formas mais ricas e flexíveis da dramaturgia renascentista.
