Esperança #miniconto

FICÇÃO

George Lucas Casagrande

7/15/20251 min read

Em tantos anos varrendo a calçada da estação, a gente acaba vivendo a mesma rotina das pessoas. Sempre as mesmas caras, no mesmo horário, encarando a pressa da cidade, matando o leão diário pra botar o que comer na mesa. Todo dia parece igual, mas nunca igual demais para não guardar um detalhe novo.

Digo isso pois nada se comparava àquele cachorrinho, sempre sentado no mesmo canto. Todos os dias ele aparecia com as orelhas em alerta, farejando o ar até ver a dona descer do trem. Aí era só alegria: o rabinho disparava num vai e vem de felicidade que não consigo nem descrever aqui.

Ah, mas o destino gosta de pregar peça, e não só nas pessoas. Um dia, estranhei: ela desceu do trem com o cabelo raspado, passos morosos, apoiada numa bengalinha azul. Foi assim por um tempo… até chegar um dia em que ele chegou na estação e só esperou, esperou, esperou… e nada. Os dias passaram, e ele continuava ali, sem tirar o olho um segundo da porta do vagão onde a moça descia.

As vezes, confundia a dona com alguma passageira e, ao perceber o engano, voltava cabisbaixo para o canto. E assim os dias viraram anos, coloca uns dois ou três aí, e assim o cachorrinho acabou virando o mascote da estação. Passaram a chamá-lo de “Esperança”.

Até que um dia, ele também sumiu.