Cantigas medievais
LITERATURAMOVIMENTOS LITERÁRIOS
George Lucas Casagrande
7/15/20251 min read
A história da poesia moderna ocidental começa, segundo Arnold Hauser em História social da literatura e da arte, com a poesia cavalheiresca da Idade Média. Com ela inaugura-se o culto consciente do amor: valoriza-se o sentimento amoroso como fonte de nobreza e beleza. Embora os gregos já tivessem explorado narrativas amorosas (como Amor e Psique e Dafne e Cloé), foi no período medieval que o tratamento sentimental da paixão e a tensão em torno da busca de realização pelos amantes passaram a ser efeitos poéticos deliberadamente explorados.
Nas canções de gesta, narrações dos feitos de cavalaria, são ainda as mulheres que tomam a iniciativa das insinuações amorosas; apenas com o advento do cavalheirismo a iniciativa feminina começará a ser vista como imprópria. A poesia cortesã medieval é altamente convencional: a amada recebe sempre traços semelhantes e é louvada de forma uniforme, de modo que o objeto do canto tende a ser uma imagem idealizada, um modelo literário coletivo mais do que uma mulher concreta. Antes de expressar afeto por uma pessoa real, o idealismo do amor cortês, apesar do seu sensualismo, constitui uma rebelião contra o mandamento religioso da continência numa época em que a Igreja exercia forte controle moral, conclamando à negação do corpo e dos prazeres não espirituais.
Os textos mais antigos da língua portuguesa preservados são composições reunidas em cancioneiros dos séculos XII a XIV: coleções de versos que circularam oralmente e foram depois fixadas. Um tratado anônimo, A Arte de Trovar, define os três gêneros fundamentais dessa poesia: cantigas d’amor, cantigas d’amigo e cantigas de escárnio e maldizer, e o termo comum, “cantiga”, indica justamente sua vocação para ser cantada a um público. Além da poesia em verso, a literatura medieval manifestou-se em prosa nos romances de cavalaria, nas obras místicas e doutrinárias e na historiografia. Entre os romances de cavalaria destacam-se as narrativas das aventuras dos cavaleiros da corte do rei Artur, herói mítico da resistência bretã; na Península Ibérica, a partir do século XIV, sobressai Amadís de Gaula, que consagrou o ideal do cavaleiro perfeito, exemplar nas virtudes medievais.
